Sem clientes e sem gorjetas

No dia 15 de março os restaurantes de Campo Mourão foram obrigados a parar. O vírus estava a solta. Permaneceram fechados ao público até duas semanas. Neste período, se reinventaram com marmitas. Agora liberados a receber a população, os locais estão às moscas. Continuam com seus deliverys. Mas os clientes desapareceram. A situação está deixando proprietários à beira do pânico. 

Num deles, cujo dono preferiu não revelar o nome, o faturamento despencou 90%. Mesmo podendo abrir as portas – frente as exigências feitas pela saúde – ele não reabriu. Ficou apenas nas marmitas. Sabe que o público ainda não está querendo sair de casa. “É uma situação esquisita. Todo mundo está segurando o dinheiro. Medo de perder o emprego. Medo de se contaminar”, disse. 

No seu caso, ele abria diariamente. No almoço e no jantar. Tinha um público fiel. Ás vezes enfrentava até fila. Eram dias bons. E o faturamento, a perder de vista. Mas agora, os tempos são outros. São incertos. Escuros. “Estamos vendo um quadro econômico ruim para todos os segmentos. Os restaurantes são apenas a ponta”, disse. De acordo com ele, esperará o próximo mês para reabrir. 

A chef Ana Paula Daleffe, do Ana Empório Bistrô, também se reinventou com o delivery. E deu certo. Mesmo com faturamento abaixo dos 60%. Ela explica que, uma vez paralisada, nem os boletos poderia estar pagando. Mas as entregas foram a alavanca para continuar. Há menos de duas semanas uma portaria municipal permitiu a abertura do espaço. Mas os clientes sumiram. Dos 60 lugares, teve que diminuir a 30. Espaçou as mesas. Fez todas as exigências sanitárias.  

Diariamente, duas a três mesas são ocupadas. O público sumiu. Mas aos poucos, está retornando. Ela compreende o medo das pessoas em sair de casa. Mas também entende que, uma vez respeitadas as medidas de respeito e segurança – como o uso de máscaras – a economia pode voltar a caminhar. “Acredito que seja um período de readequação. De reinvenção. Todos nós temos que ter paciência”, disse. Ela acredita que devagar, o público irá retornar. 

Robson Ricci, proprietário do restaurante Estação Mineira, mantinha um movimento de dar inveja antes da pandemia. Jamais havia trabalhado com marmitas. Mas desde março, se reinventou com o delivery. “Os clientes presenciais desapareceram. Hoje, menos de 10% vem ao local”, disse. De acordo com ele, aos domingos, recebia cerca de 200 pessoas. No último, nenhuma mesa foi ocupada. Ele acredita que a população está com medo do contágio. “A cada boletim informado na TV ou nos jornais as pessoas recuam”, disse.

A situação está preocupante. Sem o faturamento habitual, vem atrasando o pagamento de alguns fornecedores. Até mesmo o aluguel ainda não foi pago este mês. “Estamos em conversa com fornecedores. Alguns entendem. Outros não”, disse. Diante do quadro controverso, teve que sustar alguns cheques. Mesmo assim, tem fé. Acredita que o pior está acontecendo hoje. “Deve melhorar. Não tem como piorar”.

Beatriz Deitos, do restaurante a Varanda, um dos mais tradicionais da cidade, ficou fechado durante a quarentena. Voltou a poucos dias com o delivery. Em seguida reabriu as portas ao público. Mas também está sentindo um distanciamento dos clientes. “Eles preferem pegar pra comer em casa. Estamos tendo poucas visitas presenciais”, disse. No caso dela, demissões ainda não foram realizadas. Acredita que as pessoas têm medo do tal vírus.