Viúvas pela Covid-19 criam grupo de apoio em Campo Mourão

Um grupo formado por 36 mulheres que perderam os maridos vítimas da Covid-19 resolveu se unir para vencerem juntas a dor das perdas. A iniciativa foi da advogada Gisely Medeiros Vecchi, incentivada pelos padres Genivaldo Barbosa e Gaspar Gonçalves. O marido dela, Ovidio Afonso Vecchi Junior, morreu no mês de maio deste ano por complicações da doença. O primeiro encontro presencial do grupo, denominado “Rosas de Saron”, será no próximo domingo, dia 19.

“Antes da morte do meu marido já tive um luto traumático do meu irmão, que morreu em um acidente em 2104. Agora fiquei viúva, com dois filhos, de 10 e 7 anos. E quem vive a mesma história que você entende as mínimas coisas, por isso a ideia de criar o grupo para apoiarmos umas às outras”, explica Gisely, que estava casada há 15 anos e meio.

A maioria das viúvas é de Campo Mourão, mas também tem integrantes da região e até de outros estados. A maior parte têm idades entre 35 e 45 anos e perderam os maridos em 2021. Gisely ressalta que teve a indicação do SOS Covid, uma rede nacional de voluntários. “A maioria não conhecia essa rede, que é uma ação muito bacana no país para ajudar a trabalhar o luto das pessoas que tiveram perdas com a Covid”, explica, ao acrescentar que algumas perderam os maridos quando estavam grávidas.

No grupo pelo aplicativo whatsapp elas já começaram a se ajudarem. “Temos algumas colegas passando por situação financeira difícil, sem condições de pagar a despesa do hospital. Porque com a morte do marido não fica só a tristeza. Muitas vezes é uma força de trabalho da casa que foi embora. Além de estar em pé para lidar com o próprio psicológico, algumas têm os filhos, precisam retornar ao mercado de trabalho”, observa Gisely.

Segundo ela, embora de diferentes religiões, todas as viúvas do grupo são cristãs e por isso o principal amparo é no campo espiritual. Mas cada uma também usa as habilidades profissionais para ajudar as colegas. Gisely, por exemplo, tem colaborado com questões relacionadas à Previdência ou mesmo indicação na área da saúde.

“O grupo Rosas de Saron é para ajudar a prosseguir com a vida que continua, com partilha, oração e ação. Transformar a dor em algo positivo”, explica. Uma das ações práticas será o plantio de mudas de rosas em uma chácara. “Uma rosa para cada marido”, revela Gisely. Outros projetos, segundo ela, serão realizados em parceria com o Rotary feminino Raio de Luz.

O nome do grupo é inspirado na Bíblia, no livro Cântico dos Cânticos. “A Rosa de Saron é uma flor que cresce no vale de Saron, em Israel. E o Cântico dos Cânticos é um poema de amor, uma conversa entre um casal”, justifica. No texto bíblico, o amado e a amada trocam elogios, um comparando o outro com as flores do vale de Sarom. “Somos as rosas deixadas pelos amados, escolhidas por Deus, que com espinhos vamos ressignificar essa dor e manter nossas famílias”, conclui Gisely.