Enio, será difícil sem você
“De tarde eu quero descansar, chegar até a praia e ver
Se o vento ainda está forte
(…)
Sei que faço isso pra esquecer
(…)
E o vento vai levando tudo embora
Agora está tão longe
(…)
Dos nossos planos é que tenho mais saudade
Quando olhávamos juntos na mesma direção
Aonde está você agora
Além de aqui dentro de mim?
(…)
Foi só o tempo que errou
Vai ser difícil eu sem você
Porque você está comigo o tempo todo
(…)
Já que você não está aqui
O que posso fazer é cuidar de mim
Lembra que o plano era ficarmos bem?
(…)
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora”
Renato Russo e Dado Villa-Lobos – Vento no Litoral
“Vamos conhecer o irmãozinho de vocês”, disse o pai ao nos buscar na escola “dona Lidioneta”. Naquela tarde, lembro bem, (tinha cinco anos, mas no mesmo mês fiz seis), você ao lado da mãe. Dois de abril, 1968, nasceu o caçula Enio Brisola Maciel. Somos doze irmãos, você o último a nascer, o Euro, penúltimo e eu, antepenúltimo. Nossos queridos e saudosos pais Eloy e Elza levaram muito a sério o “crescer e multiplicai”.
Nós três brincamos de carrinho, jogamos bola, aproveitamos muito nossa infância! A preferência era a chácara. Pegávamos a carrinhola, íamos até a porteira, depois só correria, um ou dois dentro dela, o outro a pilotar a descida depois tendo que parar o carro de corrida. Infância sempre juntos.
Comentei, você, o Eloy e eu aniversariamos no mesmo mês, abril, você dia dois, eu 20 e o Eloyzinho 21. Celebramos muitas vezes juntos. “Enio, o Eloyzinho se foi, serei o próximo. Ficará só você de abril”. Não acabo de falar, vem sua graça, “de repente morro antes de você”
Que fôssemos bem velhos! Mas não! Aos 54 anos, és agora saudade, vórtice tão intenso, sem tempo para entender tudo. Agora jaz, desde dia nove.
Enio, todos os seus queridos irmãos têm e guardarão muitos fatos de você, em família, a trajetória profissional como radialista. O que faço agora, meu irmão, é citar fatos diretamente em relação a nós dois. O primeiro deles é o convite que prontamente aceitei, honrado: ser o padrinho do caçula, que leva o seu nome. Ainda que ele não precise, me cabe cuidar do afilhado. Pode deixar, bem olharei o Eninho.
Assim como me recordarei do nascimento e, como feixe de luz sem se apagar da memória, lembro dos dois grandiosos momentos. O primeiro deles quando recentemente fui hospitalizado após uma biópsia no estômago que gerou uma dor lancinante. Quando a só namorada Tânia Regina te pediu para ficar comigo, ela tinha que trabalhar, você veio imediatamente e comigo ficou. Custou passar a dor cruciante. Enquanto isso, você, sentado próximo a mim, pedia calma. Quando voltei para casa, foi você quem me trouxe, mais tarde veio pessoalmente saber como eu estava. Bastaria ter ligado, enviado mensagem. Ao seu estilo, esteve aqui. Proseamos.
Nosso último encontro foi 12 de novembro. Você com a namorada Cleusa compareceram ao meu noivado com a Tânia Regina. Uma celebração nossa que tanto desejávamos fosse compartilhada, claro, inclusive com você. Na transbordante felicidade, você nos brindou, registramos imagens que são, agora, a do derradeiro encontro e do último adeus em vida.
Embora não saiba ou consiga finalizar este texto, porém tendo que fazê-lo, te digo, querido irmão, você jamais será esquecido. Saudade tão imensa e infinita, serás sempre evocação, de nós irmãos, de todos os sobrinhos, dos filhos e netos seus, pelos colegas de profissão e amigos. É eterna a minha gratidão e orgulho por você, continuará sendo a nossa orgulhosa referência.
Fases de Fazer Frases
Fazer silêncio. Fazer-se em silêncio. Ter ou tornar silêncio.
Vida é e, ao acabar, silêncio eterno.
Olhos, Vistos do Cotidiano
Peguei minha senha. Vi, ia demorar. Não tive sanha, ainda bem.
Farpas e Ferpas (I)
Vida vai e leva alguém. Vai levar a todos nós.
Reminiscências em Preto e Branco
Ainda sobre o Enio. A presença das irmãs franciscanas com orações no velório. Recordaram em testemunho, “existiu a entrega dele há tempos, a vida a Deus”. Antes ateu, depois agnóstico, repensou suas concepções como polemista irreverente, humorado, nas suas manifestações, nunca desejou ou aceitou qualquer vantagem indevida.
José Eugênio Maciel | [email protected]