FINGI QUE FUGI

Ninguém sabe o que verdadeiramente sente: é possível sentirmos alívio com a morte

 de alguém querido, e julgar que estamos sentindo pena, porque é isso que se

 deve sentir nessas ocasiões; a maioria da gente sente convencionalmente,

embora com a maior sinceridade dos homens.

Álvaro de Campos/Fernando Pessoa

 

            – Professor Maciel, o senhor está bem?

            – Quer ir pra sua casa? Nós te levamos!

            – O senhor está precisando de alguma coisa?

            – Podemos ajudar?

            – Maciel, o senhor está passando bem?

            Todas as perguntas foram feitas uma seguida da outra e com a pressa do casal para me ajudar no que for preciso. Perguntas que começaram a ser dirigidas a mim quando os dois praticamente não tinham saído do carro. Depois se aproximaram a passos rápidos, olhares atentos voltados para mim.

            Tarde ensolarada, cerca de 16 horas e 30 minutos, quinta-feira, dia normal de trabalho. Eu estava de folga. Estava a caminhar pela cidade mourãoense. Naquele exato instante eu estava parado a olhar um enorme pinheiro nativo paranaense, uma esplendorosa araucária. Eu já iniciara o caminho de volta para casa e parei para contemplá-la, ao longe, a nossa imponente árvore-símbolo do Paraná. Eu estava a me localizar para, noutra caminhada ir ao encontro dela.

            O suor no rosto me levou a tirar o boné e, com a mão (em substituição a aba dele) pus ela junto da minha testa, fez sombra nos meus olhos para olhar sem que os raios solares me impedissem de enxergar a araucária.

            Tal cena levou o casal a achar que eu não estava bem fisicamente, perdido emocionalmente, longe de casa, sem saber para onde ir ou por onde voltar. Sem memória e, quem sabe, ser desejar regressar à morada. Essa foi a impressão que tiveram quando me avistaram. Se tivesse no lugar deles seria a imagem que eu teria. 

            – Podem ficar despreocupados: eu estou bem!

            Ficaram a me observar atentamente enquanto eu reafirmava que de fato eu estava ótimo. Enfatizei o quanto me sentia melhor, afagado por eles, tamanha gentileza comigo.

            Por ter tantos ex-alunos e sem poder lembrá-los, pois os anos modificam nossas aparências, também pelos trajes e cabelos, não os reconheci. Não deu tempo de perguntar o nomes deles. Partiram, afinal o dia era útil para eles.

            – Valeu, professor! Se cuida, mestre!

            É, a culpa é dela! Linda! Paixão tão grande a minha que motivou o casal parar pra me socorrer. Eu devia estar com cara de babão. Culpa dela, a araucária!     

Fases de Fazer Frases (I)

            Vida é abreviar o tempo. Ela já é breve.

Fases de Fazer Frases (II)

            Vida é ser.

            É ter-se. Vida é tecer.

            Ter que ser o que a vida é.

Olhos, Vistos do Cotidiano

            Até quem acompanha a política paranaense poderá não ter notado, o fato é que o peso morto deixou o governo. Não fará falta. Foi mais um cargo que preencheu com o vazio político que o caracteriza há tempos, como quando senador, vice-governador, secretário da educação. Mero registro, a saída dele teve repercussão zero, eis a nota. Não é mais secretário para assuntos estratégicos. Flávio Arns teve que pegar o boné.  

Reminiscências em Preto e Branco (I)

            Olhe o tempo: colhe, recolhe, tolhe

Reminiscências em Preto e Branco (I)

            Dicionário aberto para livrar alguma palavra antiga presa não por ele e sim devido ao desconhecimento, esquecimento. Nem pousa na tela do computador, ela vai embora. Tem razão, rica como ela é, não ficaria aqui neste texto tão pobre. Não tenho palavra.