O caminho do plástico até o oceano
Você faz ideia de quantos quilos de plástico no mar cada brasileiro gera? Difícil de medir, não é – ainda mais para quem vive longe do litoral.
Pois bem, um estudo inédito encomendado pelo Blue Keepers, projeto ligado à Plataforma de Ação pela Água e Oceano do Pacto Global da ONU no Brasil, aponta que cada brasileiro pode ser responsável por poluir os mares com 16 quilos de plástico por ano!
Ao todo, são 3,44 milhões de toneladas desse material propensas ao escape para o ambiente no país anualmente – ou seja, um terço de todo o plástico produzido no Brasil corre o risco de chegar ao oceano.
A pesquisa foi feita entre julho de 2021 e abril de 2022 e faz parte dos dois primeiros relatórios produzidos pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), e apresentada em primeira mão na Conferência dos Oceanos das Nações Unidas, que está sendo realizada em Lisboa (Portugal).
Um detalhe chama a atenção: o levantamento observou também que existe um alto risco desse estoque plástico chegar até o oceano por meio dos rios. Esse nível de risco varia ao longo do território brasileiro, mas o estudo mostra que os municípios, mesmo no interior do país, têm alto risco de contribuir para o lixo plástico encontrado no oceano – por isso, é necessário agir localmente nessa questão.
Daí vem a importância de iniciativas locais, nos estados, que auxiliem os municípios a fazer a coleta e o tratamento adequado para os resíduos sólidos, especialmente os plásticos. A grande maioria das cidades pequenas não tem condições econômicas de, sozinhas, investir no tratamento do lixo, seja na reciclagem ou no descarte ecologicamente correto.
A metodologia desenvolvida pelo estudo é inédita e traz avanços sobre modelos globais usados em iniciativas anteriores. O Blue Keepers utilizou parâmetros socioeconômicos e geográficos que não haviam sido representados anteriormente, como a reciclagem informal e a presença de barragens.
O próximo passo agora é identificar os tipos de materiais que chegam na beira da praia, em rios, manguezais, e ajudar a pensar estratégias locais de cada municipalidade.
Estamos na Década dos Oceanos e o Brasil deve ter cada vez mais protagonismo no tema. Não podemos ficar apenas nas iniciativas de instituições com o a Blue Keepers, mas envolver todos os níveis de governo e também as empresas – pois elas são parte do problema e devem, necessariamente, ter responsabilidade também na busca por soluções. Além, obviamente, de envolver os cidadãos, fortalecendo ações de educação ambiental e incentivando o consumo consciente.
Finalizando, o diagnóstico trazido pelo estudo vem reforçar o que já havíamos percebido aqui no Paraná: é preciso criar soluções não somente em áreas costeiras, mas desde onde o lixo é gerado – ou seja, desde as cidades, mesmo no interior do país.
As iniciativas em busca de rios e oceanos mais limpos precisam começar em cada casa e em cada município – mesmo naqueles mais distantes do litoral.
Marcio Nunes é deputado estadual e ex-secretário do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo do Paraná