O difícil entendimento de “coisa pública”

A corrupção política é apenas uma consequência das escolhas do povo.

Laércio Monteiro

Entro numa escola pública para um evento. Antes do início, peço para utilizar o banheiro. Deparo-me então, com louças quebradas, torneiras arrancadas e portas sem fechadura com frases impublicáveis arranhadas.

Na sala, carteiras quebradas encostam-se em paredes também esfoladas por chaves, canetas, ou sei lá o que, que arrancam a tinta e o reboco para mais uma vez, anotar nomes e apelidos dos jovens frequentadores.

Não bastasse, encontro em cada local público que frequento uma realidade parecida. Praças, escolas, teatros, calçadas, enfim, um sem-número de estruturas e locais públicos tomados de desmazelo e descuidado.

Fico imaginando de onde vem essa dificuldade de entendermos que os bens públicos são públicos – e público deve significar de todos, e não de ninguém. Pois, quando entende-se um bem público como sendo de ninguém, imediatamente vem o raciocínio: se é de ninguém, porque não pode ser meu?

E aí é que a coisa fica séria, pois, seguindo esse pensamento, cada um poderia apropriar-se de uma vantagem em relação a outros, quanto ao uso, acesso ou posse de bens públicos.

Apropriar-se de bens públicos… levar vantagem a partir do acesso ao poder público… você está pensando o mesmo que eu?

Porque será que, apesar de todas as notícias, provas, julgamentos, e tudo o mais que vemos e ouvimos contra o ex-presidente Lula, ele continua á frente nas pesquisas? Será que o povo realmente considera crime o que ele fez? Pode uma nação de corruptos julgar e condenar um igual? Ou simplesmente assiste à corrupção com um sentimento de rouba, mas faz? Ou talvez: ele roubou, mas melhorou minha condição de vida, e isso me basta?

Administração pública, dinheiro público e os bens públicos em geral são coisas sérias e devem ser tratadas como tal. A utilização delas em proveito particular ou para beneficiar terceiros é um crime que não pode ter mais a menor aceitação da sociedade brasileira.

O mínimo que se espera de um homem público é a honestidade. Essas histórias de que “rouba, mas faz” são coisas do passado e não passam de desculpas sem fundamento.

Mas não se deve esperar o mesmo do cidadão comum? Ao se deparar com um investimento, uma obra, um equipamento, rua, bueiro, enfim, aquelas coisas ao seu entorno que servem ao povo, não deveria qualquer cidadão defender e proteger seu patrimônio?

Etimologicamente, o termo “corrupção” surgiu a partir do latim corruptus, que significa o “ato de quebrar aos pedaços”, ou seja, decompor e deteriorar algo. E está intimamente relacionado a obter vantagens em relação aos outros por meios considerados ilegais ou ilícitos.

Sempre que ouço críticas à políticos corruptos, penso no cotidiano da pessoa que critica. Será que realmente a crítica é ao sistema, ou é apenas uma manifestação de que gostaria de estar do outro lado? E, lá estando, quem sabe não faria o mesmo?

Sou bem intolerante com furões de fila, inadimplentes de clube e condomínio, fraudadores de tv a cabo e internet, negociadores de jeitinhos para auferir vantagens, etc., ainda mais quando escuto dessas mesmas pessoas, reclamações quanto a corrupção e má gestão pública.

Comecemos a entender que a coisa pública é pública. Minha, sua, e de todos. Eleitos ou eleitores. Temos muito a avançar…

Carlos Alberto Facco – Secretário de Desenvolvimento Econômico de Campo Mourão – [email protected]