Regina: o retrato de uma criminosa

Presa em flagrante na última segunda, acusada de matar o próprio filho de três dias, em Araruna, uma nova e macabra descoberta da polícia pode definir Regina dos Santos, 41, como uma verdadeira mente criminosa. Ou quem sabe, uma espécie de serial killer. Após investigações sob o comando da delegada Karoliny Neves, descobriu-se que, além de agora, ela teve outras duas gestações completas em 2013 e 2016, em hospitais de Cianorte. E, a exemplo da última semana, matou as duas crianças, também asfixiadas com sacos plásticos.

Numa primeira audiência com a delegada, Regina preferiu o silêncio. Mas com os prontuários médicos em mãos, de 2013 e 2016, comprovando as duas gestações, ela decidiu confessar os crimes. E se mostrando bastante fria, como uma espécie de insensibilidade, revelou que matou as duas crianças. Ela se utilizou do mesmo método de agora para disfarçar a gravidez. Para isso, usava roupas mais largas e, devido ao perfil de seu corpo, conseguia passar despercebida. Enganou a todos. Inclusive o pai de seus filhos.

A delegada não possui as respostas, ainda, sobre os motivos que levaram Regina a fazer o que fez. Afinal, ela optou em gerar as três crianças por nove meses. E após o nascimento, decretou a morte. “Não posso afirmar que ela tenha algum distúrbio. Isso não compete a nós”, disse Karoliny.

Regina

Regina sempre foi uma mulher trabalhadora. Até o dia em que foi presa, trabalhava em uma boa empresa de Araruna. Para quem a conhece, os relatos são de uma excelente pessoa, equilibrada, normal. “Os dois filhos dela são muito bem educados. Regina sempre teve muito amor pelos dois”, disse uma mulher que não quis ser identificada. Os filhos são fruto da relação com o ex-marido.

De acordo com levantamentos, após se separar, ela iniciou um novo relacionamento, agora com o atual companheiro, que vive na mesma casa. “Eu não sei o que pode ter acontecido. Não consigo entender. Mas sei de uma coisa: se ela errou, terá que viver com isso. Para o resto da vida”, disse outra conhecida de Regina.

Regina dos Santos, 41, como uma verdadeira mente criminosa

Mente psicótica

De acordo com a psicóloga Alice Maria de Moraes, pelos relatos do caso, supõe-se que Regina nunca desejou ter os filhos. “Isso se mostra pelo planejamento do crime ter acontecido durante a gravidez. E ela não doou a criança para não deixar rastros. Uma atitude que demonstra frieza e desconsideração com seus familiares e com a criança”, disse.

Segundo ela, tudo leva a crer que se trata de uma mente psicopata, principalmente agora, com os outros casos descobertos. “Ela é mais que psicopata, uma serial killer. O seu comportamento, de uma pessoa normal aos vizinhos e até na empresa que trabalhava, faz parte de uma mente psicopata. Eles não deixam transparecer nada, simplesmente, porque não possuem sentimentos afetivos. Fazem as coisas mas não sentem culpa. Só não querem ser pegos”.

Premeditação

No dia 5 de março, ainda à tarde, uma mulher de 41 anos de idade, moradora de Araruna, chega de carro ao hospital de Terra Boa. Lá, vai até a recepção e pede ajuda, alegando estar prestes a ter um filho. Imediatamente, é hospitalizada. No entanto, com uma conversa bastante contraditória, desperta dúvidas do corpo clínico. E, ao saber que se tratava de uma paciente de Araruna, o secretário de saúde local liga ao secretário de lá, pedindo a sua remoção. Então, horas depois, uma ambulância de Terra Boa leva a mulher de volta a sua cidade. Na mesma noite, cheio de saúde, o filho nasce no hospital de Araruna. O que nenhum dos dois secretários sabia, ou podiam imaginar, era o final da história, que viria a ser uma grande tragédia: Regina mataria o próprio filho, três dias depois.

Após ser recebida no hospital de Araruna, também no dia 5, Regina permaneceu lá sozinha até 8 de março, dia em que teve alta da cesária e foi levada até sua casa, com uma ambulância do município. Segundo apurações da polícia, ela escondeu a gravidez dos vizinhos, do companheiro – com quem está há um ano e meio -, dos filhos de 17 e 19 anos e, até, dos colegas de trabalho. E, numa atitude irracional, dentro de sua casa, optou em tirar a vida do recém nascido. Possivelmente, teria o asfixiado e, por fim, concluído a ação colocando o corpo em dois sacos plásticos, ao fundo da casa, numa lixeira.

Mesmo com o corpo ali, Regina passou o final de semana em casa, junto ao filho e ao companheiro. Os dois nada sabiam. E seguiu a vida normalmente, como se nada tivesse acontecido. Tanto é que, mesmo após a cesariana, foi trabalhar na segunda-feira. Indo também até Terra Boa, apanhar o veículo deixado no hospital.

Descoberta

Mas os planos de esconder a gravidez e, posteriormente, ocultar o próprio crime, começaram a cair por terra no final da tarde da última segunda, dia 11. Preocupados com a criança – já em Terra Boa um dos médicos relatou a desconfiança que Regina não desejava ficar com o bebê – uma equipe da Unidade Básica de Saúde (UBS) de Araruna foi até a sua casa por três vezes. Nas duas primeiras, não encontraram ninguém. Na última, conseguiram conversar com o marido. E perguntaram sobre o bebê. Mas, incrédulo, afirmou desconhecer a gravidez e, consequentemente, o recém nascido.

Receosos que Regina teria doado a criança, o município então acionou a Polícia Militar e o Conselho Tutelar. Foram até o emprego dela e a levaram até sua casa. “Lá ela confessou ter matado o filho ainda na sexta, logo após ter recebido alta”, disse o secretário de Saúde de Araruna, Márcio José dos Anjos Bizao. Segundo ele, em toda gestação, Regina jamais fez um só exame, nunca procurando atendimendo pré-natal. “Ela simplesmente escondeu a gravidez de todo mundo”, disse Bizao.

Mentiras

Ainda na sexta, ao chegar do hospital, o companheiro a viu com o recém nascido. Mas ela disse que se tratava do filho de uma outra mulher, que teria pedido para buscá-lo mais tarde em sua casa. Era apenas mais uma das mentiras. Para justificar sua ausência em casa, durante todo o final de semana, ela alegou ao marido que estaria em um hospital fora da cidade, realizando exames vasculares.

Agora, com o crime evidenciado, policiais militares levaram Regina presa, algemada, em flagrante. Ela depôs à delegada de Peabiru. Mas preferiu usufruir do direito do silêncio. “Quanto ao marido, não há elementos que indiquem que tenha participação ou que tinha conhecimento. Ele está solto”, disse a delegada.

Para a delegada, pelo que foi apurado, a investigada não aparentava estar grávida. “Tanto o companheiro quanto familiares mencionaram que não sabiam que ela estava grávida e que a gestação não era perceptível. Até o momento não é possível fornecer nenhuma informação sobre a paternidade da criança ou mesmo sobre o estado psíquico da investigada. Para isso seriam necessários exames periciais para eventuais constatações”, observou.

O crime vem sendo investigado pela Polícia Civil de Peabiru

Preocupação

De acordo com Bizao, logo após a sua chegada ao hospital de Araruna e, posteriormente, ao nascimento do filho, o município colocou um assistente social para conversar com Regina. “Já sabíamos da informação que, aparentemente, ela não queria ficar com a criança. Então, escalamos um profissional para falar com ela. Foram ao todo cinco visitas dentro do hospital. Em todas, questionamos se queria ter o bebê, ficar com ele. Também informamos que havia a adoção legal. Mas sempre, ela afirmou que gostaria de ficar com o filho”, relatou Bizao.

Os crimes ocorridos em 2013 e 2016 foram planejados e premeditados da mesma forma de agora. Regina disfarçou as duas gestações e teve as crianças longe de Araruna. Possivelmente, utilizando outras mentiras para se ausentar. No entanto, as matou em Araruna, dentro de casa.

A delegada revelou que está tratando o caso como homicídio e ocultação de cadáver. E não infanticídio. “Ela gerou as crianças por nove meses. Ela teve a possibilidade de doar os filhos. Mas não o fez”, disse Karoliny.

Delegada de Peabiru, Karoliny Neves (foto), disse que quanto ao marido da mulher, não há elementos que indiquem que tenha participação dele