Professor guarda peça de satélite que caiu do céu

Numa manhã de 1992, uma bola de fogo correu o céu da pequena Nova Tebas – 70 Km de Campo Mourão. Além da cena assustadora, o barulho chamou a atenção de toda a população local. Pessoas se perguntavam sobre o impacto, ouvido até 15 quilômetros de distância. Ninguém sabia o que estava acontecendo. E, diante de todo mistério, o medo tomou conta da cidade.

Um dia depois, respostas começavam a ser dadas. Tratava-se de um estabilizador de satélite. Uma esfera de 22 quilos, oca, “despejada” violentamente contra o solo rochoso de uma propriedade rural. Eram 7 e pouco da manhã quando José Carlos Ferreira, ainda aos 19 anos, saiu de casa, no sítio da família, para trabalhar.

Ao escutar o barulho, olhou ao céu e viu o objeto caindo em sua direção. Sem saber do que se tratava, ficou inerte, apenas observando. Mas a coisa vinha rápido demais, e caiu a menos de 50 metros de onde ele estava. “Ela caiu sobre uma árvore, quebrando alguns galhos. Depois, atingiu uma rocha. Além de esmagá-la, ainda afundou uns 30 centímetros”, disse.

A esfera estava toda avermelhada, bastante quente, parecendo uma brasa em fogo. Ferreira conta que, após vê-la cair, correu para encontrá-la. Estava curioso. “Não tive medo algum. Eu não imaginava o que era. Pensei se tratar de um tanque de combustível de avião”, disse. Após verificar o objeto, ele comunicou a prefeitura local. Uma equipe retirou a esfera e, dias depois, a encaminhou a análise da Aeronáutica. Ferreira hoje mora em Contagem, na região Metropolitana de Belo Horizonte. Mesmo distante, jamais esqueceu o fato.

Aos 48 anos, Lucy Goulart continua a morar na área rural de Nova Tebas. Era menina quando escutou o estrondo, próximo a sua casa. “Me assustei. Foi um barulhão enorme. Parecia que o mundo estava acabando”, lembra. Ela conta que a família ficou bastante preocupada. Ninguém sabia do que se tratava. No final do dia, a notícia já dava conta que se tratava de uma bola esquisita, vinda do céu.

Lucy reside a 15 minutos do local do impacto, numa comunidade conhecida como “300 Alqueires”. Entre o sítio onde mora e o local da caída, apenas um morro. Na época, ela não quis ir até o local, principalmente, por medo. “A gente não sabia do que se tratava. Ficamos com medo”, disse. Mesmo sabendo se tratar de um objeto esférico, a população demorou a saber que pertencia a um satélite. Para alguns moradores, restaram dúvidas se poderia ser algo extraterrestre.

Atual Diretor do Colégio Estadual do Campo Olídia Rocha, de Nova Tebas, Itamar Aparecido Borges, também lembra do ocorrido. “Foi uma loucura. Ninguém sabia direito o que era aquilo. As pessoas ficavam com medo de se aproximar do artefato”, disse. Segundo ele, a Aeronáutica atestou se tratar de um estabilizador de satélite. Para todos os efeitos, não se trata de algo extra terreno. Ao contrário. Trata-se de lixo humano. Mas agora, vindo do céu.

Curiosidade

Com um furo ao meio, a bola – desprendida de um satélite americano – continua guardada numa escola do município. Ela passou a ser objeto de muita curiosidade. Até mesmo, tema de baile, chegou a ser. Na época, Diretor da escola da comunidade de Poema, Sidney Cleber de Almeida, conta que decidiram organizar um baile interplanetário, com o tema “Baile do Satélite”. O evento foi organizado na quadra de esportes, sem cobertura. O objetivo era levantar fundos à escola.

O bailão gaúcho estava pronto a acontecer. A notícia circulou nas rádios locais. Uma montoeira de gente havia confirmado presença. Até a esfera foi levada. E fazia parte da decoração. Mas outro fator, também vindo do céu, atrapalhou tudo: a chuva. Adiada, a festa teve que ser transferida a nova data. Ela até aconteceu. Mas sem muita ênfase. Na época, até o deputado estadual Nelson Tureck, compareceu. A entrada do baile foi decorada com estrelas e, mais uma vez, com a “bola do céu”. “A peça despertava muita curiosidade”, disse Sidney.

Serviço

A esfera continua guardada no Colégio Olídia Rocha, em Nova Tebas. Na avenida Ipiranga, 32, Poema. (42) 3647-1112. Embora ela possa ser visitada, por enquanto, devido a pandemia, a unidade está fechada. Contatos através do email: [email protected]