A polêmica dos supermercados abertos

No último domingo (23), um decreto municipal previa o fechamento dos supermercados a  partir de quinta (27). Mesmo a prefeitura adiantando a informação, a população proporcionou, mais uma vez, intensas aglomerações. Eram filas de dobrar a esquina, principalmente, na terça e quarta-feiras. Cientes da decisão, representantes do setor, iriam obedecer às regras. Mas tudo mudou na quarta à noite. Foi quando uma liminar autorizou o funcionamento, através de delivery. Pronto. Estava formada a polêmica. 

Preocupados com os altos índices do coronavírus e, ainda, com a ausência de novos leitos destinados à doença, prefeitos da região decidiram adotar medidas mais restritivas. Uma delas, era o fechamento dos supermercados. Horas depois, ainda ontem, outra liminar autorizava não só o delivery, mas a abertura presencial do segmento, além de panificadoras. Alguns prefeitos ficaram indignados, como o de Araruna, Leandro César de Oliveira: “Só queríamos parar o vírus”, disse. 

Então, já pela manhã de hoje, todos os supermercados de Campo Mourão abriram as portas, mesmo para receber um número ínfimo de consumidores. De uma certa forma, não cometeram nenhum crime, principalmente, porque estavam amparados pela lei. No entanto, se legalmente estavam certos, moralmente, parte da população foi contra. 

“Acredito que poderiam ter permanecido fechados, ajudando no controle da pandemia. Eram apenas quatro dias. Ninguém quebraria por tão poucos dias. Além do que, somente o que faturaram na terça e quarta, já os mantinham pelo mês todo”, disse um aposentado, que preferiu não ser identificado. Mesmo sendo contra, ele estava saindo de um deles. 

A direção do Supermercados Carreira informou que não atenderam na quinta, nem no sistema delivery. Hoje abriram as portas, principalmente, por estarem amparados pela liminar. “Estamos preocupados com a saúde das pessoas, sim. Em nossa loja adotamos todos os protocolos exigidos”, informaram. Amanhã a empresa abrirá somente até às 17h. E no domingo, não abrirão as portas, como de costume. 

“Entendemos a situação pela qual todos estamos passando. Mas acreditamos que os mercados não podem ficar quatro dias fechados. Devemos ter a preocupação de seguir todos os protocolos de segurança. Mas não podemos restringir as pessoas de comprarem seus alimentos”, disse Álvaro Machado da Luz, diretor da Rede Paraná Supermercados. Segundo ele, existem pessoas sem dinheiro na carteira para estocar alimentos. Por exemplo, uma diarista, que recebe após o serviço e se encaminha ao mercado. 

“Nosso intuito não é prejudicar o ambiente, mas sim, com toda a preocupação, proporcionar a compra de alimentos”, lembrou. De acordo com ele, a empresa respeitará todas as decisões judiciais. O empresário também enfatiza a importância da vacinação. “Gostaríamos de vacinar todos nossos colaboradores, pois entendemos ser atividade essencial e deveria estar incluída na campanha nacional de vacinação”, disse. 

Procurados, a Rede Muffato não retornou a ligação. O Condor informou que não poderia falar a respeito, sem antes, comunicar a sua direção, em Curitiba. A Rede Bom Dia preferiu não se manifestar. O espaço continua aberto às suas respectivas considerações.

Mesmo trabalhando com a lei sob os braços, o setor teve empresas que preferiram não abrir, em respeito à saúde. Como a Fiorella. Embora não seja um mercado, ela também foi amparada pela liminar. Mas em nota, disse: “Continuaremos fechados em respeito à vida. Mesmo com o Tribunal de Justiça autorizando, não abriremos neste fim de semana. Respeitamos o decreto municipal e, principalmente, os profissionais de saúde que lutam diariamente para salvar vidas”. 

De uma forma geral, o problema poderia ser resolvido se a vacinação já estivesse em estado avançado, proporcionalmente, ao tamanho da população, como disse um outro consumidor que também não quis ser identificado. “É tudo fruto de políticas atrasadas. Se estivéssemos com a vacinação a pleno vapor, não jogariam a população nestas polêmicas. Empresários se sentem bandidos por trabalhar, gerar empregos. A vacina é o único meio de acabar com tudo isso e voltarmos a ser o que éramos antes”, revelou. Ainda hoje, o município de Campo Mourão recorreu ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ) contra a decisão liminar de abertura dos supermercados, mercados e padarias.