Denilson decidiu ser voluntário em terras onde médicos, praticamente, não existem

A pura satisfação da medicina levou o ortopedista Denilson Daleffe a se voluntariar, pela terceira vez, em terras onde médicos, praticamente, inexistem. Em todos os atendimentos ou até, procedimentos, o seu pagamento foi através de um sorriso. Um abraço caloroso. Ou apenas, uma palavra de gratidão. Ele já sabia que seria assim. Levou o conhecimento e a vontade em ajudar em nome de algo maior que, nem ele mesmo sabe o que é.

Denilson deixou Maringá na última semana. Em Santarém, no Pará, adentrou ao barco hospital João Paulo Segundo. Uma estrutura completa e complexa a procedimentos médicos, mantida por padres franciscanos. Ali, percorreu mais 21 horas até chegar a Almeirim, uma pequena cidade às margens do Amazonas, o grande objetivo da expedição. Ao lado de outros 12 voluntários de Maringá, além de médicos dos demais estados, atenderam mais de 500 ribeirinhos.

Uma delas foi Maria Raimunda. Aos 84 anos, andava com dificuldades nos últimos dez anos. Tinha um cisto sebáceo na sola do pé. E, segundo ela, não havia quem a atendesse. “Quando analisei o caso dela, fizemos o procedimento cirúrgico no interior do barco. Ela ficou boa. Agradeceu com muita gratidão e depois foi embora. Contente”, explicou Denilson.

Denilson com Maria Raimunda: cisto sebáceo eliminado

Enquanto ele atendia de um lado, de outro estavam cardiologistas, clínicos gerais, dentistas, pediatras, anestesistas e oftalmologistas. Todos com a mesma causa: o voluntariado. “Não sei porque faço isso. Talvez seja a satisfação em ajudar. Levar a medicina a quem precisa. Mas sei que volto realizado. É como uma espécie de dever cumprido”, diz.

Denilson leva à risca o juramento realizado na faculdade. Escrito por Hipócrates – considerado o “Pai da Medicina” -, ele escreveu: “Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza à perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva. Conservarei imaculada minha vida e minha arte. Em toda a casa, aí entrarei para o bem dos doentes”.

A expedição contou com dois barcos hospitais – João Paulo Segundo e Papa Francisco. Juntos, estavam de portas abertas aos cuidados dos ribeirinhos. Primeiro uma triagem era realizada. Depois disso, os pacientes recebiam os cuidados. O atendimento começava antes mesmo do raiar do sol. E só terminava após o atendimento do último doente.

Conta o médico que esta expedição foi diferente das outras duas. Desta vez foi ele o responsável em montar a equipe: profissionais e missionários da Santa Casa de Maringá. “Foi muito importante pra mim, principalmente, da forma como aconteceu. Uma equipe integrada e trabalhando unida. Fazendo com prazer”, disse.

Denilson é um sujeito destemido. Ele adentrou à faculdade de medicina aos 23. Mas até os 22, jamais havia pensado em ser médico. Ao contrário. Cursava administração de empresas. “Quis um desafio maior na minha vida. Então, mudei tudo”, disse. Já perto dos 30, virou ortopedista. E de respeito. Hoje, atua em Maringá e em Campo Mourão. Não foge de cirurgias e sempre pronto aos desafios da profissão. A bem da verdade, um “osso” de profissão.

Movido a desafios, ele já marcou sua ida a uma nova expedição junto aos padres franciscanos: outubro de 2022. Uma nova missão. Novos sentimentos. E deve ser muito satisfatório o que faz. Afinal de contas, não é fácil deixar a pequena e meiga Laura, a filha de um ano, mesmo que, por apenas uma semana. E como diria o saudoso mestre Rubens Sartori, “a gente leva da vida, a vida que a gente leva”.