Pompéia, a tragédia de quase 2 mil anos

Andar sobre as ruínas de uma, senão da maior catástrofe da história humana, nos remete a muitos sentimentos. E não é fácil imaginar que ali, sob o solo da Pompéia de 79 D. C., mais precisamente no outono de 24 de outubro, cerca de 35 mil pessoas foram “sepultadas” vivas. Vítimas da ação do vulcão Vesúvio, num primeiro momento perderam a vida sob toneladas de pedras e cinzas. A seguir, gases tóxicos concluíram a dizimação. Cidade e população foram enterradas juntas. Até hoje, mesmo após o início das escavações no século 18, apenas 1,3 mil corpos foram encontrados. E continuam sendo localizados. De uma certa maneira, corpos ressurgidos das cinzas. E a história não para de ser recontada.

Pompéia margeia o Mar Mediterrâneo e está localizada a 22 quilômetros de Nápoles, no sul da Itália. E apenas 9 do Monte Vesúvio. Foi uma cidade romana muito à frente do seu tempo. Vivia sob o regime democrático. Até propaganda política já foi descoberta em suas paredes. Aos homens ricos, casas maiores, com água encanada. Sauna, mulheres e muita mordomia. Aos pobres, acomodações pequenas, trabalho e teatro de graça. O ditado pão e circo ao povo, definitivamente, não surgiu ao acaso. “Dê pão e circo ao povo”, disse César, Imperador de Roma depois de construir o Coliseu.

A história narra que Pompéia foi fundada no século 7 A.C. Tinha influência das civilizações gregas e etruscas, que dominavam o sul da Itália. No século 4 A.C. a cidade foi fortemente urbanizada. No entanto, foi entre 27 D.C. e 37 D.C., quando a cidade viveu seu apogeu, com grandes edifícios construídos. Mas um terremoto em 62 D.C. derrubou parte de sua grandeza.

A bem da verdade, Pompéia passou por três destruições: o terremoto de 62 D.C., a destruição total, dez anos depois. E a última, com o lançamento de pelo menos 30 bombas na Segunda Guerra Mundial. “Os americanos acreditavam que os nazistas estariam escondidos sob as ruínas da cidade. E explodiram ao menos 30 bombas aqui. Um dos principais danos ocorreu na praça principal, Júpiter. Destruindo o calçamento em mármore Travertino”, relatou o guia e estudioso italiano, Francesco Iacorini.

Hoje, sabe-se que os habitantes de Pompéia não tinham ideia do perigo. Ninguém ali imaginava que estavam aos pés de um vulcão. Ainda mais porque o mesmo não entrava em erupção havia 1800 anos. Para a sociedade, tratava-se apenas de um monte. E mesmo com pequenos tremores ou, até, em determinados momentos, com fortes abalos, não tinham ideia que era a montanha a responsável por aquilo. De uma certa forma, os sinais foram emitidos. Mas ignorados.

Iacorini lembra que a erupção do Vesúvio foi tão forte que o material expelido chegou à cidade numa velocidade de mais de 100 Km por hora, com temperatura beirando os 200 graus celsius. “Eles foram pegos de surpresa. E mesmo escutando a explosão, não tiveram tempo de muita coisa”, disse. E são exatamente os mortos que continuam recontando a história da cidade.

Um dos corpos encontrados, segundo ele, pertencia a um empresário. E foi descoberto ao lado de muitas moedas de ouro. “Certamente a cena é clara. Ele tentou fugir levando o próprio dinheiro. Como não haviam bancos naquela época, todo o dinheiro era guardado em casa. Foi escavado ao lado de suas economias”, disse.

A erupção do Vesúvio foi tamanha que outra cidade vizinha, Herculano, passou pelo mesmo processo. No entanto, ali, a temperatura foi o dobro, com quase 400 graus, desaparecendo com os corpos. Nas duas cidades, camadas de quinze metros, feitas por cinzas e pedras, “sepultaram” tudo. E ficaram ali por mais de 1600 anos, sem nunca ninguém imaginar a dizimação das duas sociedades. “Pompéia só foi descoberta porque, ainda no século 18, um campesino decidiu furar um poço para ter água, quando encontrou as ruínas do teatro da cidade”, disse.

Então, a partir daquele momento, historiadores e arqueólogos passaram a desenterrar a história. Passando a descobrir milhares de peças, móveis em mármore. Estátuas, pinturas e muitos corpos. Pelo menos uma das saunas públicas descobertas, continua extraordinariamente intacta. Lá, o chão feito com pequenas pedras, pinturas de teto, banheiras em mármore e afrescos esculpidos nas paredes, estão completamente preservados. E são os achados que têm revelado os aspectos sociais, políticos, econômicos e artísticos daquela sociedade.

Hoje, Pompéia é um dos locais mais visitados do mundo. Sua história é contada em livros. Aprendida nas escolas. E contada por todos. Mas é apenas presencialmente, que se tem ideia do que ali aconteceu. Uma catástrofe inimaginável. Graças ao trabalho de pesquisadores, é possível identificar parte da cultura da época. Pelo menos 35 restaurantes foram encontrados, como uma espécie de “fast foods” daquela sociedade. Além de fornos preservados de padarias da época.

Nas ruínas de Pompeia destacam-se templos, a casa de leis, termas, restaurantes, teatros. Ali também foi encontrada indumentária de ferro, muito possivelmente, utilizada por gladiadores. Além de casas de famílias ricas em excelente estado de conservação. Pinturas continuam bastante preservadas em algumas casas, como arte erótica.

E ao contrário do que se imagina, os corpos encontrados e expostos no museu local, não são brancos devido ao que aconteceu. Iacorini explica que, para resgatar cada um deles, criou-se a técnica de gesso líquido. Uma vez localizados, arqueólogos projetam o produto sob a terra. Depois, através da escavação, retiram as vítimas já “engessadas”. Mas exatamente da maneira como morreram. Alguns deles ainda é visível o crânio. De acordo com o estudioso, ainda restam ao menos 22 hectares a serem escavados em Pompéia. Muita coisa ainda deve ser encontrada. E a história, continuará a ser recontada.

Brasileiro desapareceu no Vesúvio

O advogado e jornalista brasileiro Antônio da Silva Jardim morreu em 1891, aos 30 anos, durante uma visita a Pompéia. Curioso por conhecer o vulcão Vesúvio, mesmo avisado do perigo, foi tragado por uma fenda que se abriu na cratera da montanha. Na época, de acordo com reportagem do jornal “A Pátria Mineira”, de 30 de julho de 1891, sua morte teria sido um acidente, testemunhado por um guia e amigo, Joaquim Carneiro de Mendonça. Em homenagem ao jornalista morto, foi determinado que o município fluminense de Capivari, vizinho a Araruama e Rio Bonito, passasse a ter o atual nome de Silva Jardim.

Jardim teve grande atuação nos movimentos abolicionista e republicano, particularmente no Rio de Janeiro. Nasceu na vila de Nossa Senhora da Lapa de Capivari, atual sede do município que hoje leva o seu nome. Seu pai foi um modesto professor e lecionava em seu próprio sítio.

Enviado a Niterói para que pudesse estudar, foi aluno inicialmente no colégio Silva Pontes. Mais tarde, matriculou-se no Colégio de São Bento, tendo estudado português, francês, geografia e latim. Nessa época, ajudou a fundar um jornal estudantil denominado O laboro literário, onde iniciou sua vida política e sua luta pela liberdade.

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