Colheita da soja atinge 19% da área na Comcam, produtor de Araruna colheu só 13 sacas por alqueire

A colheita da soja atingiu cerca de 19% da área total na região de Campo Mourão. Ou seja, os produtores retiraram do campo 131.215 hectares de um total de 690.610 há. Os dados são do Departamento de Economia Rural, núcleo de Campo Mourão, vinculado à Secretaria Estadual da Agricultura. Os números são referentes até essa segunda-feira (14).

Conforme o técnico do Deral em Campo Mourão, Paulo Soares Borges, em virtude da estiagem prolongada, a colheita da cultura apresenta quebra de produtividade. Agricultores ouvidos pela TRIBUNA informam perdas que variam de 40% podendo ultrapassar até 50%.

Na região de Araruna, por exemplo, onde o solo é arenito, o que agravou ainda mais os danos à cultura devido à seca, teve produtor rural que colheu apenas 13 sacas por alqueire, enquanto o esperado era de 140 a 160. É o caso do produtor Tiago Fernando. Há anos na atividade ele disse que nunca havia passado por esta situação.

“Nos anos anteriores produzimos sempre entre 155 a 170 sacas por alqueire. Este ano fizemos o plantio tudo como manda o figurino, mas veio a estiagem e devassou tudo. Colhemos exatamente só 13 sacas por alqueire”, lamentou ele, ao comentar que os prejuízos foram enormes. “Nunca imaginamos passar por uma situação dessa”, acrescentou. Conforme o Deral, a estimativa é que a colheita das próximas áreas sofra aumento de produtividade, já que receberam mais chuvas.

Conforme com o último levantamento mensal divulgado pelo Departamento, a redução estimada na produção da soja na Comcam é de cerca de 46%. A projeção inicial do Deral apontava para uma produção de 2.623.690 milhões de toneladas, caindo para 1.416.792 milhão/t, uma perda de 1.206.898 milhão de toneladas. Um novo levantamento será divulgado nas próximas semanas.

Os números apontam ainda que 60% da área a colher na região da Comcam (335.636 hectares) estão em condições ruins; 25% (139.849 há), médias; e 15% (83.909 hectares), boas. Conforme o levantamento, 72% das áreas estão em processo de maturação e 28% em frutificação. No Paraná, a colheita da cultura atingiu 21% da área. Foram colhidos 1.158.822 milhão de hectares de um total de 5.642.364 milhões.

Em relação a cotação do cereal, os preços recuaram nas principais praças. Em algumas regiões, a queda foi bem acentuada, com tradings forçando um recuo na soja. A queda de Chicago e do dólar favoreceu esta movimentação.

Na região da Comcam, por exemplo, o preço passou de R$ 192 para R$ 186 a saca até a manhã desta segunda. No porto de Paranaguá, a saca passou de R$ 197 para R$ 191. Mas os produtores saíram do mercado, que travou. O foco neste momento é o clima e seu impacto sobre o potencial produtivo e o andamento da colheita.

Os contratos futuros da soja negociados na Bolsa de Mercadorias de Chicago (CBOT) fecharam a segunda-feira com preços mais baixos. Notícias de chuvas na América do Sul durante o final de semana e a previsão de mais precipitações a partir do dia 20 ajudaram na realização de lucros.

O mercado de soja monitora ainda o conflito entre Rússia e Ucrânia, ainda que os impactos diretos para a soja possam ser limitados. Mas nessa segunda-feira houve um movimento de correção generalizada nas commodities, em meio ao sentimento de que o conflito possa ser resolvido de forma diplomática, impedindo prejuízos no fornecimento.

Os contratos da soja em grão com entrega em março fecharam com baixa de 13 centavos de dólar por bushel ou 0,82% a US$ 15,70 por bushel. A posição maio teve cotação de US$ 15,74 por bushel, com perda de 12,25 centavos ou 0,77%.

Nos subprodutos, a posição março do farelo fechou com baixa de US$ 8,20 ou 1,79% a US$ 448,40 por tonelada. No óleo, os contratos com vencimento em março fecharam a 65,81 centavos de dólar, com alta de 0,09 centavo ou 0,13%.

Milho

O milho de 1ª safra também apresentou boa evolução nos trabalhos de colheita com o tempo firme dos últimos dias, atingindo 33% da área colhida. Os preços praticados na praça de Campo Mourão são em média R$ 93,00 a saca de 60 quilos. Grande parte da cultura está na fase de maturação na região.

“Os trabalhos no campo se intensificaram desde a última semana, pois com o tempo firme, produtores puderam dar sequência a colheita das culturas de verão e plantio de segunda safra”, diz o Deral.

Dos 20.369 hectares com milho na região, 6.721 foram colhidos até essa segunda-feira (14) pelos produtores rurais. Do restante a colher, 9.281 hectares (68%) estão em condições ruins; 2.730 há (20%), situação mediana; e apenas 1.638 hectares, o equivalente a 12% em boas condições.

A queda na produção de milho 1ª safra foi ainda mais expressiva que a da soja. Os últimos números mensais divulgados pelo Deral, em 25 de janeiro, apontavam para uma redução de 62,73% no volume de produção. A estimativa inicial de produção na Comcam era de 216.450 toneladas. Porém devido à seca, o volume foi reduzido a 80.662, 135.788 toneladas a menos do previsto.

Paraná

O último relatório de estimativa de perdas do Deral, aponta que as perdas na cultura da soja ultrapassam 8 milhões de toneladas. Com isso, a produção está 39% menor em relação à projeção inicial de 21 milhões de toneladas, o que acarreta prejuízo monetário acima de R$ 23 bilhões.

No caso do milho, foram perdidos, mais de 1,5 milhão de toneladas, o que representa queda de 36% na projeção inicial de 4,2 milhões de toneladas. Os produtores já acumulam prejuízos superiores a R$ 2,2 bilhões.

Devido ao grande volume de perdas, o Governo do Paraná enviou ofício à ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, com uma série de sugestões para minimizar a situação dos agricultores prejudicados pela crise hídrica. O documento propõe ações referentes a crédito rural, seguro rural e Proagro, além da distribuição de sementes para os que não têm condições de adquirir e produzir nova safra.

O documento, assinado pelo secretário da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara, é resultado de trabalho conjunto com o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) e entidades representativas dos produtores rurais – Sistema Ocepar, Federação da Agricultura do Paraná (Faep) e Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores Familiares do Paraná (Fetaep).