Fernando acertou na Mega Sena. Mas no dia errado

Na última quarta-feira, dia 15, o desempregado Fernando Alves, saiu cedo de casa. Na companhia da esposa, foi até uma lotérica. E lá, fez três jogos simples da Mega Sena. Pensava estar apostando no concurso 2573, com resultado mais à noite. Mas, sem saber, apostou no 2574, com sorteio na quinta. Então, um dia depois, 16, retornou à mesma empresa para conferir os números. À sua alegria, acertou cinco dos seis. E achou ter ganhado R$58,4 mil na quina. Quase enfartou de felicidade.

Acreditando agora, poder pagar as dívidas e ter melhorado de vida, se dirigiu até a Caixa Econômica Federal. Foi quando o chão desapareceu. Lá, informaram que os números que ele havia acertado pertenciam ao concurso 2574 – que aconteceu na quinta -, e não ao 2573, sorteado na terça à noite. Não satisfeito, buscou informações junto ao Procon de Campo Mourão. E, após verificações junto à lotérica, o órgão o informou que, realmente, ele não teria direito ao prêmio. Ou seja, ele apostou as dezenas certas, mas no jogo errado.

Definitivamente, Fernando Alves não gosta da palavra azarado. Prefere o termo equivocado. Ele explica que, acostumado a jogar na Mega, decorou os dias dos sorteios: quartas e sábados. Ao seu espanto, não sabia que, excepcionalmente nesta semana, eles aconteceram na terça e quinta. “Joguei na quarta achando que o resultado era na quarta. Por isso fui quinta cedo conferir. E acabei conferindo com o sorteio anterior”, explicou. Equívoco, sim. Azar, não.

Aliás, de azarado Fernando nada tem. Apostando na Mega já ganhou a quadra duas vezes, R$ 320 e R$ 450. Sua história vai além. Chega a ser surreal. Conta que em 1987, ao lado do amigo Samuel, juntaram algumas moedas e foram até uma lotérica do centro de Campo Mourão. “Naquele dia, ele me contou que tinha sonhado com três números. E pediu pra jogarmos. E jogamos”, disse.

Segundo Fernando, o dinheiro deu apenas para um bilhete da Loteria Federal. Um dia depois retornaram ao local e, ao checarem o resultado, perceberam que haviam acertado todos os números. “Eu lembro perfeitamente daquele dia. O prêmio era grande”. No entanto, ao entregarem o bilhete campeão à moça do guichê, ela teria informado que não. Não haviam ganho absolutamente nada. “Ela ficou com o bilhete. E nós não argumentamos mais nada. Éramos crianças. Ficamos felizes só de ter acertado. Dinheiro que é bom, não levamos”, disse. A bem da verdade, saíram com uma mão na frente e a outra atrás. Se é que ganharam mesmo.

Amigos até hoje, Samuel confirmou a história. Ele não lembra dos detalhes. Mas se recorda que todos os números apostados bateram com os sorteados. “Como éramos crianças, nossa maior vitória foi ter acertado. Saímos muito faceiros de lá”, disse.

Fernando é o que se chama por aí de um verdadeiro brasileiro. Casado, dois filhos e com uma penca de contas a pagar, ainda está sem trabalho. Até poucos dias trabalhava na construção de uma casa. Mas a grana do proprietário acabou. E, com ela, o seu trampo. “Estou parado. As coisas apertaram. Pra não faltar nada em casa estou tendo ajuda da minha mãe. Uma senhora de 69 anos. Eu é quem deveria ajudá-la. E não ela, a mim”, disse ele, constrangido com a própria situação.

Acreditando em Deus, Fernando diz orar todos os dias. Ele também crê que a “tempestade” atual logo cessará. Aos 44 anos, mora numa casa própria. Também vem construindo a segunda, ao lado. O imóvel servirá para abrigar a mãe, que acabou de perder parte de um dos pés. “Ela tem diabetes. Teve um problema relacionado a isso”, explicou. Sem dinheiro, a casa da genitora também foi paralisada. Não há milagres.

Na dura caminhada da vida, Fernando sempre buscou prezar pela honestidade. Uma virtude facilmente evidenciada em seu rosto. E, por óbvio, em suas atitudes. Em julho de 2018, ao chegar à obra onde trabalhava, no centro de Campo Mourão, encontrou um saco pesado. Ao abri-lo percebeu que estava repleto de moedas. “Meu companheiro de trabalho falou na hora pra dividirmos. Então perguntei se aquilo era dele. Preferi chamar a polícia e entregar tudo. O único caminho a andar é o correto. O da honestidade”, disse.

Chamados, policiais militares receberam o saco e, ao contarem, descobriram se tratar de R$ 1,4 mil. Todo o dinheiro acabou sendo devolvido a um comerciante, que teve a loja roubada na noite anterior. “Se não era meu, não podia ficar com ele”, afirmou. O episódio da honestidade do mestre de obras, na época, foi estampado no portal G1, da Globo.

Mas agora, Fernando irá dar um tempo à construção civil. Cansado dos perrengues da atividade – fez alguns serviços e não os recebeu -, está pensando em novos ares. Quem sabe, iniciar algo inovador. Criativo, ele mantém na cabeça inúmeras ideias. Muitas, com possibilidades reais de se consolidarem. E desta vez não se tratará de sorte ou azar. Mas sim, fé e esperança.