Município vê “pandemia” de migrações às escolas públicas

Escolas públicas municipais de Campo Mourão estão com o limite máximo de alunos. Pelo menos na área urbana. Com a queda da renda de inúmeras famílias, o jeito foi tirar os filhos das particulares. Dados indicam que, desde o início do ano, foram 350 transferências. Do total, 150 ocorreram em meio a pandemia. A partir de agora, novas vagas, apenas às três escolas rurais do município.  

Mãe solteira e, preferindo não ser identificada, ela retirou a filha de seis anos de uma escola privada, há 15 dias. Com a pandemia, seu orçamento despencou em mais de 70%. Primeiro tentou negociar com o colégio. Pediu descontos entre 30 e 50%. Conseguiu apenas 10%. Como não resolvia, fez a transferência. “Preferi não ficar inadimplente. Conheço várias famílias que não estão pagando as mensalidades desde abril. Algumas até processando as escolas. O jeito foi mudar”, disse. 

Autônoma, ela diz que seus negócios dependem de pessoas de outras cidades que vinham até Campo Mourão. Como as viagens estão complicadas, perdeu muita receita. “Tentei receber um desconto digno. Mas não deram. As escolas poderiam ter ajudado, uma vez que seus custos também diminuíram. Mas não ajudaram”, disse. Segundo ela, caso a instituição melhorasse o desconto, teria se desdobrado para continuar. Sua filha agora está matriculada na Escola Parigot de Souza. 

A secretária de Educação da prefeitura de Campo Mourão, Tânia Caetano explica que o movimento de transferências teve início ainda em janeiro. Mas com a pandemia, o número cresceu. Segundo ela, a principal causa é a dificuldade em manter as mensalidades das particulares. “Os pedidos são para a educação infantil, de 4 a 5 anos, e ensino fundamental”, disse. Ela também ressalta que o porte das turmas não foi alterado. 

A partir de agora, vagas ainda existem. Mas nas rurais. São três unidades: Caetano Munhoz da Rocha, no Alto Alegre; Manoel da Nóbrega, no Km 128; Narciso Simão, no Distrito de Piquirivaí. Embora existam, as distâncias são impraticáveis. Num resumo prático, as vagas já eram. 

Ainda não existem previsões da volta normal às escolas. A secretária explica que, desde o início da pandemia, os professores começaram a enviar as atividades às casas. Também utilizavam as mídias que cada família dispunha. Nos casos em que nada tinham, a escola fazia impressões em papel. Com o tempo, o processo foi se aperfeiçoando com uma plataforma de ensino conhecida como Atla. Que faz parte do Projeto Juntos Educar, do Codecam. A fundação banca a plataforma desde 2019.

Também houve um processo de escalonamento com os professores, quando iam até as escolas uma vez por semana. Lá, atendiam as famílias e alunos com agendamento. Uma maneira de tirar dúvidas para o processo de alfabetização não parar. Mas o atendimento foi cancelado. Principalmente, em decorrência do aumento de casos da Covid. “As escolas estão se preparando para retornar com o escalonamento mais uma vez”, disse. Quanto a volta às aulas, só Deus sabe.