Quase sem recursos e pouco estudo, “super” avó vira professora de seis netos

Com as aulas presenciais suspensas por conta da pandemia, os familiares de alunos tiveram que ajudar ainda mais em casa nas aulas pela internet. E as dificuldades enfrentadas são muitas. Mas para Reni Amaro Rodrigues, moradora da Vila Guarujá, enfrentar essa situação foi a oportunidade de auto-superação. Pudera. Apesar de ter estudado por apenas 7 anos e quase sem recursos de informática, ela consegue ajudar a manter em dia as atividades de seis netos, dos quais cinco moram com ela.

Para dificultar ainda mais a situação, até poucos dias ela contava apenas com dois aparelhos de telefone celular para as atividades com as crianças. Isso sensibilizou a direção do CMEI Criança Feliz, que conseguiu a doação de um computador e um notebook para ela seguir firme no propósito da formação escolar dos netos. “Enquanto temos famílias que possuem recursos necessários e não estão dando o valor devido a educação, dona Reni é um exemplo a ser seguido”, comenta uma das professoras.

A “super” avó tem três netos estudantes do Colégio Estadual Osvaldo Cruz, dois na Escola Municipal Castro Alves e um no CMEI Criança Feliz. Na casa dela moram oito pessoas. A ajuda do marido, de 70 anos, nas tarefas domésticas, é fundamental para conseguir ajudar os netos. ”Eu não trabalho porque devido a pandemia tive que tomar conta de cinco netos que ficaram sem escola. Meu marido é aposentado e minha filha trabalha. Tive que virar professora para auxiliar até neto que não mora comigo”, relata dona Reni.

Ela diz que no começo houve lágrimas de desespero, ansiedade e muita dificuldade. “Mas me senti na obrigação de pensar no futuro dos meus netos. Se eu olhasse seis alunos diferentes e dissesse que não vou conseguir eu seria muito injusta porque a mãe trabalha e o avô não tem condições”, justifica.

Dona Reni começou a correr atrás com os poucos recursos que dispunha. “Fui buscar ajuda com as professoras.  No ginásio chegaram até parar de me responder e minha neta de 15 anos entrou em desespero. Aí consegui recorrer a uma pedagoga e ela, com muito amor e dedicação, nunca negou ajuda. Foi ficando mais fácil, a minha neta conseguiu se concentrar e a outra também conseguiu. Não precisou mais pegar aula impressa. Até perdi dois celulares porque queimaram a tela”, relata. 

Com a ajuda e persistência da avó, as atividades foram colocadas em dia. “Quando as minhas netas do colégio estão estudando eu estou do lado. Entregamos todas as tarefas e não deixamos acumular nenhuma.  Temos a hora da leitura, hora das atividades, do café, do almoço, lanche da tarde e hora de terminar as matérias e postar”, conta dona Reni.

Apesar da idade, o avô toma conta da cozinha. “Ele lava louça, faz o almoço, limpa a cozinha e serve os netos enquanto eu fico ao dispor do aprendizado deles. Olho sempre pra frente e quando tudo isso passar e nós vamos vencer”, confia. À noite, a família se reúne para terminar a limpeza da casa. “Depois fazemos uma brincadeira, jogamos bola, brincamos de esconde-esconde para tirar o estresse, o avô faz a janta e serve todo mundo. Sentamos na sala, ficamos contando histórias e conforme vai dando sono todo mundo vai dormir”, descreve a rotina, como uma escritora.