Campanha ‘Maio Laranja’ conscientiza população sobre abuso sexual na infância

O “Maio Laranja” é o mês para conscientizar a população sobre o abuso sexual na infância e na adolescência. Para reforçar as ações, nesta quarta-feira (18) é celebrado o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Com o objetivo de mostrar para a população a importância de debater o assunto, o município de Campo Mourão fez nessa terça-feira (17) o lançamento da campanha de prevenção.

Longe de ser uma data comemorativa, o dia é de luta e de silêncio pelas inúmeras vítimas de violência e exploração sexual pelo país e o mundo, observa a presidente do Conselho Tutelar de Campo Mourão, Marisa Palma. O órgão atua na linha de frente na defesa das crianças e adolescentes.

Nos próximos dias, o Conselho Tutelar da cidade intensificará ações de orientação a crianças e adolescentes a respeito de eventuais situações de ameaça ou de violação de direitos; promoção de campanhas de incentivo a denúncias em casos de exploração sexual, e ainda, sensibilização em eventos com grande fluxo de turistas e comunidade local. As atividades seguem além do mês de maio.

Conforme dados repassados à TRIBUNA pelo Conselho Tutelar, as ocorrências envolvendo crimes de violência e abuso sexual são preocupantes no município. Em 2019 foram 86 casos registrados, sendo 82 de abuso sexual e 4 exploração sexual; 2020, 109 casos, dos quais 93 envolviam abusos, 7 exploração e 9 estupros; e 2021, 69 ocorrências no total – 48 de abusos, 12 exploração e 9 estupros.

Atualmente, há 57 crianças vítimas deste tipo de crime sendo acompanhadas pela rede de proteção, que envolve, Conselho Tutelar, Poder Judiciário, Creas, entre outros. Marisa conta que a pandemia prejudicou o atendimento às vítimas, uma vez que as denúncias não chegaram ao Conselho com as crianças e adolescentes fora do ambiente escolar, além da permanência delas por mais tempo com os abusadores. “A escola é um dos locais onde mais facilmente são identificados os sinais de violência contra menores”, falou.

Segundo a conselheira, o dano psicológico se soma ao dano pedagógico. “No ambiente escolar, os pedagogos e professores são pessoas capacitadas para identificar sinais que não são percebidos à primeira vista. A criança que sofre violência, na maioria dos casos, sente-se culpada e por isso não procura ajuda”, frisou. Ela destacou que qualquer indício de violência, em qualquer ambiente, deve ser denunciado e identificado. “Com a divulgação desses dados queremos que as pessoas tenham contato com essa realidade que se agravou ao longo da pandemia”, comentou.

De acordo com Marisa, outra preocupação é que 97% dos casos desse crime acontecem dentro de casa e é praticado por pessoas muito próximas às vítimas. “Na maioria das ocorrências as crianças são abusadas no ambiente intrafamiliar”, ressalta , ao destacar que a violência sexual é endêmica no Brasil e é preciso atuar na prevenção com as denúncias chegando ao Conselho Tutelar. “Depois de abusadas, os danos psicológicos causados a estas crianças podem durar a vida toda”, afirmou.

A presidente do Conselho Tutelar orientou que uma criança, quando abusada, apresenta sinais como não querer ter o contato com as pessoas, choro repentino, falta de apetite, entre outros. “A criança sempre vai deixar sinais de que algo não está bem com ela. E é muito importante estar atento a eles”, falou, ao lembrar que é importante também esclarecer á sociedade que a conjunção carnal não tem que ser a comprovação de uma violência sexual. “Todo ato libidinoso, como o toque, abraço sem permissão, mostrar conteúdos pornográficos ou mostrar imagens, é considerado violência sexual”, explicou.

Casos suspeitos de abusos devem ser feitos ao Conselho Tutelar pelos telefones: (44) 3518 – 4426; (44) 991256727, ou Disk-100. “O responsável deve obrigatoriamente fazer a denúncia ao Conselho Tutelar para as medidas cabíveis”, destacou Marisa. Segundo ela, em caso de denúncia, o agressor deve ser afastado imediatamente do seio familiar para proteção da vítima. Quando isso não é possível, em último caso, as vítimas são levadas para abrigos. Atualmente Campo Mourão possui dois espaços para acolhimento destas vítimas: um para meninas com até 18 anos de idade e outro que acolhe meninos de 12 a 18 anos. “Esta não é a melhor opção nunca porque a família precisa acolher a criança”, observou.

Dia de luta

O dia 18 de maio é celebrado o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, data determinada oficialmente pela Lei 9.970/2000, em memória à menina Araceli Crespo, de 8 anos de idade, que foi sequestrada, violentada e assassinada em 18 de maio de 1973. Portanto, o Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual de Crianças e Adolescentes incentiva que em todo o Brasil sejam realizadas ações que visem alertar toda a sociedade sobre a necessidade da prevenção à violência sexual.

Diariamente crianças e adolescentes são expostos a diversas formas de violência nos diversos ambientes por eles frequentados. Dessa forma, a família, a sociedade e o poder público, devem ser envolvidos na discussão e nas atividades propostas em relação à prevenção ao abuso e exploração sexual, alertando principalmente que as vítimas, em sua grande maioria, não tem a percepção do que é o abuso sexual. A violência sexual de crianças e adolescentes pode ocorrer em várias idades (incluindo bebês), e em todas as classes sociais, podendo ser de várias formas.

Serviço

O Conselho Tutelar atende denúncias 24 horas por dia em Campo Mourão. O órgão é formado por cinco conselheiras eleitas pelo voto popular: Marisa Barbosa Palma (presidente); Zilda Inglez Modena (primeira secretária); Silvana Pierini; Valdirene Neves; e Vilmara Queiroz. Denúncias podem ser feitas pelos telefones: (44) 3518 – 4426; (44) 991256727, ou Disk-100.